sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012




 O anoitecer chegou cobrindo a cidade com seu aconchegante véu negro, junto com ele trouxe também o peso e a dor daquela nova vida. As lembranças e a saudade me deixam nostálgica.
Vê-los ao longe antes bastava, agora não mais. Eles creem que não mais me importo, que já não fazem diferença alguma em minha vida, mais eles fazem.
Consigo vê-los sorrir, estão felizes desde que ela voltou e depois de um tempo um pequeno fruto nasceu daquele amor, uma bela menininha de pele bem branca, cabelos cacheados, lembrava-me e muito a mãe, Laís. Claro que alguns dos traços ela herdara do pai, Eddy sempre fora um homem charmoso , isto é algo incontestável. Lunna, este era o nome daquela pequena criança, ela parecia um anjo, mesmo sendo teimosa como a mãe.

 Eddy sofreu anos com a sua ausência, sofria calado, observando o mundo do alto dos prédios, lembrando de quando sua amada havia partido. Ele nunca demostrou seus sentimentos abertamente, mais quando se conhece uma pessoa sabemos traduzir cada expressão, cada olhar triste enviado para o vazio da noite.
Aposto que se ele me visse agora, saberia que estou triste, que sinto a falta deles.
Sinto uma vontade quase incontrolável de ir até eles, de abraça-los, de conhecer Lunna, de deixar ela me conhecer. Mais a ideia de proximidade me assusta, me apavora. Acho que mesmo eles não mais sendo detetives, temo por minha segurança, pela segurança de Calipe.

 Lembro-me de quando meu amado quase fora morto por Eddy, de como quase fomos mortos por conta deste amor proibido. Éramos caça e caçadora, mais isso não foi um empecilho, pareceu ser na verdade um facilitador e um catalisador de sentimentos. Guardando, escondendo aquele sentimento de todos, afinal, como explicar que você esta amando aquilo que deve rastrear, caçar e matar. Como explicar que ama um assassino, um ser que vive em função da morte de outro? Como dizer que por conta daquele amor eu havia virado um ser da noite?
Quando o vi apontando aquela arma pra Calipe tive medo de perde-lo, sabia que Eddy não hesitaria em disparar. Coloquei-me entre a arma e Calipe, se ele atirasse, me mataria também. Foi quando vi Eddy hesitar pela primeira vez. Em todo o tempo que fui detetive sombria nunca havia presenciado tal ato, ele não compreendeu de pronto o porque de eu estar ali, entre ele e o monstro que devia matar e por alguns poucos segundos achei que padeceria com Calipe. Ela interveio, Laís pediu pra que ele nos deixasse ir, que ele não fizesse nada que pudesse vir a se arrepender mais tarde. Ele nós ouviu atentamente e então eu parti.
Não foi possível conter as lagrimas ao me despedir daquela que por tanto tempo considerei minha irmã, sabia a falta que sentiria de Laís, que sentiria dos dois.

 O amor que sinto por Calipe pouco posso explicar, eu sempre o amei, desde o jardim de infância, o sentimento apenas cresceu. Passamos pelo primário, o fundamental e o ensino médio juntos, ele sempre esteve ali ao meu lado. Lembro de quando recebi terrível noticia de sua morte, mal reparei que as circunstancias eram estranhas e que o fato de não terem encontrado seu corpo era ainda mais. Naquela época eu não tinha os conhecimentos que tenho hoje, eu era nova demais, ingênua demais. Sofri tanto com a perda dele que enlouqueci e decidi ir atrás do culpado. Foi quando descobri que nas ruas desta cidade existiam perigos que mais pareciam saídos de um filme de terror.

 Comecei a sair escondido anoite para procurar o culpado pela morte dele, como disse eu era nova e ingênua demais, não conseguia ver os riscos que eu corria.
Eu tinha encontrado uma pista, haviam me dito que ele foi visto saindo de um bar na noite em que morreu, fui até ele, passei a noite inteira olhando de um lado pra outro sem conseguir encontrar nada nem ninguém que pudesse ter informações sobre o ocorrido. Eram quatro da manhã quando deixei o bar, as ruas estavam ainda mais escuras e confesso que o medo começava a apoderar-se da minha razão.
Ao longe um homem me seguia, aprecei-me mais ele conseguiu me alcançar. Aquilo foi horrível. Ele era algo que nunca sonhei em ver na minha vida, o corpo coberto por pelos, os dente eram longos e ele tentava me morder, a lua cheia iluminava o beco ao qual fui arrastando-me para me esconder dele, quando achei que meu fim havia chegado ele apareceu.
Usava um longo sobretudo de couro preto, tinha a pele morena e longos cabelos castanhos, enfrentou aquela criatura estranha com uma agilidade e naturalidade descomunal, parecia ter feito aquilo a vida toda.
Ele olhou pra trás e me analisou e depois se virou para ir embora.

- Ei... Espere! O que era aquela coisa?

- Nada com o que precise se preocupar agora. Vá pra casa garota, esta tarde de mais pra andar sozinha por ai!

- Mais o que era aquilo?

 Acho que ele percebeu que eu não iria embora até que ele me respondesse. Ele estava certo, mais enfim.  Lembrar de como conheci o Eddy me fazia rir, confesso que tornei-me a pedrinha de seus sapatos desde que ele me salvara naquela noite. Eu me colocava em risco somente pra encontra-lo, pra tentar sondar se ele sabia o que realmente havia matado Calipe.
Por fim, acabei sabendo coisas demais e por opção pedi pra que ele me levasse para a academia, queria ser uma detetive das sombras como ele. Queria saber o que havia escondido na noite, queria caçar livremente o que matara o único homem que amei na vida, fiquei por muito tempo sendo movida pela sede de vingança.

 Eddy me treinou, foi paciente e complacente a meus erros, me protegeu nas missões, acabou tornando-se especial. Como um irmão, era a unica família que eu tinha naquela nova fase da minha vida.

 Após um tempo foi quando Laís apareceu no stand de tiros. Eu e Eddy ficávamos muito ali, não porque tínhamos dificuldade em atirar ou algum problema para acertar nossos alvos, ficávamos ali porque era relaxante beber e atirar. Acho que nos fazia esquecer temporariamente os problemas.
Lembro de como o sorriso dela o deixou, Eddy ficou bobo com ela, acho que foi naquele momento que ela ganhou o seu coração e ele mal imaginou que jamais iria esquece-la ou conseguir não sentir saudades dela .

 Após ela receber treinamento adequado foi decidido que eu, ela e o Eddy faríamos uma equipe. O famoso trio dinâmico, era como Eddy nos chamava. E foi em uma das nossas rondas noturnas que meu mundo simplesmente tornou-se um belo caos.
Tínhamos o costume de nos dividir, assim a ronda andava mais rápido e poderíamos ficar um tempo de bobeira olhando para a noite, era o que nos restava para apreciar naquele trabalho.
Eddy ficava encarregado de fazer uma varredura do altos dos prédios, Laís ficava com o norte e eu com o lado sul.
Olhava becos, bares afim de encontrar algo incomum e neste dia encontrei. Estava passando por um dos becos quando o vi, ele estava com um corpo nas mãos, os lábios manchados de sangue, os olhos perdidos em uma tempestade de ódio. Ao vê-lo tive que me esforçar para não cair no chão e começar a chorar.

- Calipe? ...

 Eu mal conseguia dizer seu nome, eu mal consegui acreditar que ele estava vivo e estava ali na minha frente, a dor, angustia voltaram a tomar conta de mim, tinha medo de que aquilo não fosse real.
Ele  abandonou o corpo e limpou os lábios com a manga da jaqueta que usava, ao ver seu rosto contra a claridade do luar eu não tive duvidas de que era ele.

- Calipe! Você...

- Andy? O que esta fazendo aqui? Como me encontrou?

 Explicar tudo a ele foi custoso, até por que ele me assustava um pouco, não deixou de ser carinhoso como sempre fora, mais ele parecia ter raiva de eu ter o visto naquele estado, ele achava que não merecia compaixão. Tecnicamente não merecia, pelas regras eu teria que elimina-lo, mais como faze-lo, afinal eu amava aquele homem, aquele vampiro.
Após meia hora Eddy veio atrás de mim, assim que ele se aproximou Calipe sumiu, mais prometera me encontrar. A dificuldade estaria em mantê-lo seguro, com tantos detetives das sombras pelas ruas.

 Passei a inventar desculpas para me desvencilhar de Eddy e Laís durante as missões, levei muitas advertências mais não me importava mais com aquilo.
Saia da academia escondida, como fazia na adolescência para me encontrar com ele, o deixei a par do que eu havia me tornado e de que não seria fácil permanecer daquela forma por muito tempo.
Dividir o quarto com a Laís tornou complicado devido as minhas diversas mentiras, ela se importava com meu bem estar e queria saber o que estava acontecendo. Disse que eu estava desatenta, desinteressada, o que não era mentira, eu já não era mais tão eficaz. Lembro-me de que a Laís me disse pra tirar férias, a ideia era atraente mais eu sabia que a única coisa que me mantinha sensata naquela situação era o meu dever para com Os Detetives das Sombras. Devido minhas inúmeras falhas fiquei afastada por um tempo das missões e foi ai que sucumbi à ideia de me juntar a Calipe, foi quando pedi a ele para me transformar, não queria mais ficar longe dele e assim deixei a minha estranha família pra trás.

* Esta  é a continuidade de uma historia criada pelo meu amigo Eddy Khaos chamado Detetive das Sombras. Aqui tentei contar um pouco o ponto de vista de Andy ( citada como a Gemea no texto principal).

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